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O Tempo e Suas Surpresas

Atualizado: 4 de jun.

Há quase trinta anos, eu estava sentada na varanda da casa dos meus pais. O céu azul não combinava com o nó que apertava meu peito. Eu, com apenas 25 anos, carregava dentro de mim a alegria e o desespero. Grávida. E sozinha. Meu noivo, aquele com quem sonhei construir uma vida, desistira do casamento. Meu mundo, antes repleto de planos, ruía silenciosamente como um castelo de cartas diante de um sopro impiedoso.


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Filha única mulher, criada com zelo, afeto e amor, eu só conseguia pensar na decepção que causaria aos meus pais. Arrastei-me por semanas, disfarçando o pranto, escondendo a barriga, tentando encontrar coragem onde só havia medo. E ali, entre os silêncios da casa e o pulsar de uma nova vida no ventre, entendi que a esperança, às vezes, nasce do caos. Aquela criança era minha luz.


O dia de contar a verdade chegou como um trovão. Minha mãe, feita de força e tradições, reagiu como um pai da década de 50:


— Quem ele pensa que é? Minha filha é de família e vai casar sim!


Já meu pai, doce e sereno, me acolheu com braços largos e palavras que guardo no coração até hoje:


— Não se preocupe, minha filha. Eu criei três, e claro que crio mais um. Você é a minha pérola.


Foi ali, nos braços dele, que encontrei abrigo. Ali desabei. O casamento aconteceu. Em 17 de fevereiro de 1996, entrei na igreja vestida de branco. Estava linda por fora, mas por dentro… era só escuridão. A cerimônia selava não um conto de fadas, mas um pacto de resistência. Vinte e dois anos de um casamento que me ensinou mais sobre dor do que sobre amor. Ainda assim, dele nasceram as três maiores riquezas da minha vida: Bruna Gabriely, Maria Luiza e Luiz Gustavo.


E é aqui que o tempo, esse velho mestre, me surpreende.


Estamos em 2025. O céu continua azul, mas agora combina com o meu coração. Porque aquela primeira vida que carreguei no ventre, minha filha Bruna Gabriely, cresceu. Tornou-se uma mulher linda, forte, inteligente. Tornou-se minha amiga, meu espelho, minha cura. E agora… vai se casar.


E com esse novo pedido de casamento — agora não o meu, mas o dela — sinto que algo dentro de mim também se transforma. A dor de ter sido rejeitada, abandonada, esquecida… tudo isso se dissolve, enfim. O que antes era ferida aberta, hoje é cicatriz bordada de paz. O que antes era vergonha, hoje é orgulho. O que antes era medo, agora é fé.


Bruna vai se casar com amor, por amor, para o amor. Com toda pompa, brilho e bênção que uma mulher merece. E eu estarei lá, não como a noiva de uma história triste, mas como a mãe de uma história redentora.


O tempo não falha. Deus também não. Ele demora, é verdade. Mas quando chega… ah, quando chega, vem com cura, com sentido e com amor.


Obrigada, Senhor, por escrever comigo uma história que começou com dor, mas termina com graça.

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