Caminhando sozinha no cerrado
- Eliete Bahia
- 11 de jun. de 2018
- 4 min de leitura

Acordei neste domingo dia 10 de junho de 2018 angustiada, ansiosa, como se meu peito fosse explodir! Precisava fazer algo para relaxar, acalmar ... Então peguei minha mochila de hidratação com água, uma maçã e uma faca, Calcei meu tênis e fui...
Saí da minha casa( setor de chácaras) no Núcleo Rural Casa Grande, desci uma rua até sair do setor de chácaras e peguei uma trilha sentido a BR-DF 180, 8 km de terra, poeira, paisagens magnificas do cerrado, flores, pássaros, lembranças desorganizadas ocupavam minha mente que lutava para viver somente a liberdade do momento.
Costumo dizer que para mim caminhar é uma forma de oração, um jeito prático de organizar os pensamentos. Minha forma de me afastar do mundo e de me aproximar de mim mesmo. Andar é minha Ave Maria e meu Padre Nosso. Mas não é só isso. Caminhar é minha válvula de escape. Meu palavrão gritado a plenos pulmões, seu #@!*@#!!! ... Meu carnaval. Meu fora, Temer! Meu rock´n´roll.
Sabe aquela chacolhada necessária pra deixar as coisas no lugar? O porre do final de semana, o baseado, a academia, a terapia? Pra mim o caminhar é tudo isso. Claro que não importa o destino. O que importa é o momento de liberdade !
“Não se caminha para chegar depressa, caminha-se para que as coisas nos alcancem no tempo propício, caminha-se para ficar com os sentidos despertos e para fazer o ar circular pela mente e pela alma“. - Adriano Labbucci.

Assim, segui por mais 2km por asfalto na BR_DF 180 até a próxima trilha, em direção a subida da Nadja (VC351), somando um total de 8km percorridos passando por fazendas e um pequeno riacho onde parei para abastecer meu reservatório de água. Ao pular a cerca de arame farpado acabei me ferindo na perna, pois não vi o arame mais abaixo devido o sol que estava mais que radiante!


Continuei meu trajeto, um pouco tensa pois passou por mim um motociclista e como eu estava só em uma área descampada, isolada, tive medo de ser abordada, mas graças a Deus foi apenas o medo de estar sozinha.
Pelo caminha procurei por um bastão ou pedaço de pau para me proteger de cachorro ou qualquer outro animal menor, também contava com minha faca escondida na cintura. Nunca se saber né?! Mas felizmente foram apenas acessórios de aventura, não precisei usa-los!
Bem, depois de 13 km cheguei no ponto mais alto desse percurso a famosa subida Nadja, assim apelidada pelos ciclistas da região, que por acaso passaram alguns por mim na ocasião e me dava um sensação de tranquilidade. É bem verdade que já conhecia a trilha pois já havia feito por várias vezes de bike e acompanhada com os colegas, nunca sozinha e a pé.


Após concluir as 3 curvas ingrimes da famosa Nadja, parei um pouco para comer a única maçã que havia trazido como alimento, pois não tinha intensão de ir tão longe. Sei que não se deve fazer isso, sair sozinha com pouco recurso. Mas durante todo o percurso me comunicava com minha amiga Célia Cristina pelo WhatsApp dando as coordenadas da minha localização.
Bem, não sou tão louca, só um pouco!! Estou acostumada a fazer aventuras, e também tenho curso de orientação para aventura, experiência com expedições off-road, bike e caminhadas, tenho um bom preparo físico e assisto todos os seriados de técnicas de sobrevivência (Largados e pelados, Dose Dupla, Vale Tudo...) se é que conta hehehe!
Então, não me tomem por exemplo pois sou inconsequente kkkk!
Mas continuando minha aventura, segui sentido ao cemitério do Gama até o asfalto por mais 2km até a próxima trilha somando 15km percorridos . Mais uma parada para abastecer o reservatório de água em uma barraca de Caldo de cana e Pastel que encontrei pelo caminho. Porém também não levei dinheiro então pedi um pouco de água ao rapaz chamado Bruce, que me deu uma garrafinha de 500 ml dizendo:
_ Quem nega água, nega Deus. Vai com Deus amiga!!
Fiquei tão feliz pois meus lábios já estavam ressecados, a boca sem saliva e a garganta pedindo pelo amor de Deus um gole de água. Aquela pequena doação de água bem gelada foi mais que um presente, nossa!! OBRIGADA SENHOR!


Aprendemos tanto com essa loucuras de sair sem dinheiro, pouca água e alimento, se desprender dos confortos do dia-a-dia. Quando percorri 600 km de bike no Caminho da Fé em 2017, vive experiência incriáveis sobre a bondade humana, a caridade e o amor ao próximo, pois fui muito bem acolhida em várias paradas durante todo o percurso de Sertãozinho à Aparecida do Norte em São Paulo. Parece loucura fazer coisas assim mas é recompensador as experiências, principalmente de fé no irmão!
Concluindo, foram mais 9km até minha casa, e mais um susto ao passar do lado de um homem que vinha em direção contraria a minha. Ele parecia meio tonto, era bem alto e forte um negro abençoado! Mais uma vez tive medo por estar sozinha em um ambiente isolado... Na mente clamei a Nossa Senhora que me protegesse e segui. Ao passar pelo homem disse :
_ Boa Tarde !! Ele respondeu : _ Boa Tarde!
Continuei em passos ligeiros e ao olhar para trás para saber se o homem alto seguia seu caminho, percebi que também me observava. Bateu um desespero e corri . Ainda tinha forças para correr uffa!!!
Quando percebi que já estava fora do seu ponto de vista e segura diminui os passos e respirei melhor...
Talvez, fosse um homem de bem só passando por ali, mas estar caminhado sozinha em locais ermos, setor rural de muito pouco movimento é muito arriscado. Então não poderia dar bobeira!
Bem, segui em segurança, já mais calma curtir a paisagem ao meu redor. Meu corpo começava a dar sinais de cansaço, os músculos das pernas avisavam-me que existiam e estava ali cumprindo com seu papel. A falta de alimento já causava uma certa fraqueza, mas a determinação de chegar era mais forte que todos esses fatores, segui agradecendo a Deus pela incrível experiência de percorrer 24 km, sozinha na região de cerrado, com cenas maravilhosas de morros, árvores, mato, flores, riacho, um céu azul com toques de pincel nas nuvens em branco, pássaros que pareciam minha torcida dizendo : ??_ Vai, vai falta pouco!
Ao final mais flores caliandra e uma fileira de árvores de pinheiro que não só me presenteava com uma imagem linda, como também me oferecia seu fruto duas pinha como troféu!!
Assim foi minha primeira experiência de desbravar sozinha uma caminhada de longa distância, como treinamento para feitos ainda maiores. O mundo me chama!!
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